9 de setembro de 2017

Palestra na USP, Tardes de Linguística: "O que é Linguística Forense?", com Dayane Almeida


Evento: Tardes de Linguística na USP
Palestra: O que é Linguística Forense? 
Palestrante: Profa. Dra. Dayane Almeida (UNICAMP)
Local: FFLCH-USP
Data: 18/09/2017, às 14h



"Resumo"


O que é linguística forense?

Profa. Dra. Dayane Celestino de Almeida
UNICAMP (Instituto de Estudos da Linguagem)
Departamento de Linguística Aplicada

Em 1968, Jean Svartvik publicou um trabalho em que apresentou sua análise de dois depoimentos dados por Timothy Evans – que havia sido condenado pelo assassinato de sua esposa e filho – à polícia, concluindo que os dois testemunhos, que deveriam ser uma transcrição exata do que foi dito, eram muito diferentes em termos de estilo linguístico, o que poderia ser um indício de que um deles havia sido forjado. Svartvik nomeou a sua análise “forensic linguistics” e uma nova disciplina surgia ali, embora seu desenvolvimento tenha ganhado ímpeto apenas a partir da década de 1990.

Em inglês, “forensic”, cuja tradução em português passou a ser “forense”, está associado a uma ciência capaz de ajudar a desvendar crimes, papel que, no Brasil é assumido pelo que se conhece como “Criminalística”. Então, uma das definições de linguística forense é a aplicação dos conhecimentos linguísticos pra ajudar a solucionar crimes. Note-se que falamos em “uma das definições” – que numeraremos como “a” –, já que, com o passar do tempo, a linguística forense passou a englobar também contextos em que haja uma intervenção do linguista e da linguística no sentido de: b) prover evidências linguísticas para solucionar casos na esfera criminal ou civil; e c) promover treinamento ou consultoria a operadores do Direito (policiais, advogados, promotores, peritos, etc.) para um melhor funcionamento da Justiça. Assim, embora o adjetivo “forense”, de modo geral, possa referir a qualquer relação com o campo do Direito, a “linguística forense” não são os estudos de “Linguagem e Direito” em sentido amplo, como por exemplo a análise dos textos e discursos jurídicos (campo bastante frutífero do Brasil e no mundo), mas tão-somente o emprego da linguística em situações em que seja possível de fato uma intervenção do linguista e da linguística para resolver um problema que se apresenta em contextos judiciais e criminais.


Esta apresentação tem por objetivo responder à pergunta-título – “O que é linguística forense?” – por meio da exposição de exemplos de casos reais que contaram com o auxílio de linguistas como consultores ou peritos. Dentre estes, estão casos de identificação de falantes por meio de elementos fonéticos, de análise de autoria textual em suspeitas de plágio, de análise dialetológica para estabelecer um perfil sociolinguístico útil em uma investigação, de treinamento de policiais para assumir uma persona linguística online para fins de investigação, de disputas em torno de elementos linguísticos que se tornam propriedade privada (as marcas registradas), de disputas em torno da (falta de) compreensibilidade de advertências ou instruções escritas em produtos, de ambiguidades em contratos, da análise de estilos linguísticos para determinação de origem em casos de pedidos de asilo por refugiados, de análise de autoria para determinar alguma in formação acerca de autores de textos anônimos ou assinados por pseudônimos que podem aparecer em situações criminais (por exemplo, bilhetes de resgate, cartas de ameaça, cartas de suicídio) e, ainda, de diversos crimes cometidos por meio linguagem, como por exemplo, injúria, difamação, calúnia, assédio, suborno, ameaça, extorsão, entre outros.