30 de março de 2015

Carta de suicídio - Casos Odilaine/Bernardo

O caso do assassinato do menino Bernardo Boldrini, morto em 2014, voltou a ganhar espaço na mídia brasileira. 

O programa Fantástico da rede globo exibiu ontem reportagem em que um perito particular fez uma análise grafotécnica e afirmou que a carta de suicídio escrita em 2010 pela mãe do menino, Odilaine, foi forjada. O laudo conclui que o texto não poderia ter partido de seu punho. O perito Ricardo Caires levou em conta outros textos de próprio punho na análise e também a assinatura de Odilaine presentes na carta e em outros documentos. 

Veja aqui a reportagem do Fantástico.

Este caso é exemplar no que se refere ao não uso dos métodos e técnicas da Linguística Forense no Brasil. Em minha tese de Doutorado, eu cito diversos exemplos de casos em que uma análise Linguística (não grafotécnica ou grafológica) dos escritos envolvidos poderia ajudar a elucidá-los. Apesar de bastante conhecida no Brasil e no mundo, a análise da escrita de próprio punho traz poucos  elementos que possam garantir que seu autor tenha sido uma ou outra pessoa. O levantamento de características linguístico-discursivas presentes nos textos de Odilaine em comparação com a carta de suicídio de autoria questionada poderia aumentar o grau de certeza com relação à conclusão do perito. Quanto mais características puderem ser examinas, maior a acuracidade da análise, já que quanto mais elementos forem agregados mais se vão diminuindo as possibilidades, estatisticamente falando, de dois autores compartilharem características.

Outra questão está na maneira categórica como o perito expressa a sua opinião. Ele diz que Odilaine não poderia ter escrito a carta, mas uma posição menos apressada simplesmente apontaria as semelhanças e diferenças entre os textos. É claro, porém, que não podemos julgar o trabalho da perícia sem saber os detalhes de seus métodos, que obviamente não foram mostrados durante a breve reportagem. 

De qualquer forma, fica aqui o exemplo de um caso em que um linguista forense poderia atuar. Sem falar nas milhares de cartas que devem ser escritas por aí em meios digitais e que têm sua autoria questionada, casos em que a análise da letra em nada ajudaria (porque não há "letra" rs). Trabalho há. Só estamos a um longo passo de nos fazer conhecer em terras tupiniquins.